Um incidente em águas internacionais intensificou as tensões no conflito Israel-Palestina, nesta segunda-feira (09) quando o exército israelense interceptou o navio “Madleen”, parte da Flotilha da Liberdade, que tentava entregar ajuda humanitária à Faixa de Gaza. A bordo, estavam 12 ativistas, incluindo o brasileiro Thiago Ávila, a ativista sueca Greta Thunberg e o ator irlandês Liam Cunningham. A ação gerou reações internacionais, com destaque para o posicionamento do governo brasileiro e a justificativa oficial de Israel, em um contexto marcado pela escalada do conflito após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 (shabat de sucot).
A Flotilha da Liberdade, uma iniciativa internacional que busca romper o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza desde 2007, organizou a missão do navio “Madleen” com o objetivo de entregar suprimentos essenciais, como alimentos, água e medicamentos, aos 2,3 milhões de habitantes do território.
A Faixa de Gaza enfrenta uma crise humanitária agravada, com relatos de fome generalizada e deslocamento de quase toda a população, segundo a ONU.
A embarcação partiu da Sicília, Itália, em 1º de junho de 2025, carregando suprimentos doados por organizações não governamentais e ativistas. A missão foi planejada como um ato de solidariedade, desafiando as restrições israelenses que limitam a entrada de ajuda humanitária, frequentemente acusadas de violar o direito internacional por usarem a fome como arma de guerra.
Na madrugada de 9 de junho, o navio foi interceptado em águas internacionais pelo exército israelense, a cerca de 100 milhas náuticas da costa de Gaza.
Segundo a Flotilha da Liberdade, a abordagem envolveu o uso de drones e agentes químicos, com os ativistas sendo detidos e levados para a prisão de Givon, em Ramla, Israel.
Os 12 detidos, incluindo Thiago Ávila, Greta Thunberg e Liam Cunningham, foram colocados em celas individuais e estão incomunicáveis, conforme relatos de organizações de direitos humanos.
A operação foi ordenada pelo ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, conhecido por suas posições ultranacionalistas.
Os ativistas enfrentam acusações de “apoio ao terrorismo”, com Israel alegando que a flotilha poderia estar fornecendo recursos ao Hamas. A organização da flotilha classificou a ação como um “sequestro” e uma violação do direito à livre navegação.
O governo israelense defendeu a interceptação do navio, alegando que a Flotilha da Liberdade representava uma ameaça à segurança nacional. Em comunicado oficial, o Ministério da Defesa de Israel afirmou que a ação foi necessária para impedir que suprimentos chegassem ao Hamas, grupo que governa Gaza e é classificado como organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
Segundo as autoridades, os ativistas foram detidos para interrogatório, e o governo planeja deportá-los após a conclusão do processo. Israel também justificou medidas severas na prisão, como a proibição de símbolos palestinos e a exibição forçada de vídeos do ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023, como parte de uma “reorientação” dos detidos. O governo reiterou que suas operações em Gaza visam combater o terrorismo e proteger civis israelenses, negando acusações de crimes de guerra.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Itamaraty, emitiu uma nota oficial exigindo a libertação imediata do cidadão brasileiro Thiago Ávila e dos demais ativistas.
O governo brasileiro condenou a interceptação em águas internacionais, destacando que a ação viola o princípio da liberdade de navegação e o direito internacional humanitário.
A nota também expressou “profunda preocupação” com as condições de detenção e reiterou o compromisso do Brasil com a solução de dois Estados, defendendo a coexistência pacífica entre Israel e um Estado palestino viável.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já classificou as ações de Israel em Gaza como “genocídio”, reforçou a necessidade de uma investigação independente sobre o incidente. A pressão diplomática brasileira se soma a críticas de outros países, como Reino Unido, França e Canadá, que também condenaram o bloqueio de ajuda humanitária por Israel.
O contexto da prisão dos ativistas está diretamente ligado à escalada do conflito iniciada em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas lançou um ataque surpresa contra o sul de Israel, durante o feriado judaico de Shabat, marcando o início do Sucot.
A ofensiva, sem precedentes em escala, envolveu a infiltração de militantes por terra, mar e ar, com o uso de parapentes, além do disparo de milhares de foguetes.
O ataque resultou na morte de cerca de 1.200 israelenses, a maioria civis, e na captura de aproximadamente 250 reféns, levados para Gaza. O Hamas justificou a ação como resistência à ocupação israelense, enquanto Israel classificou o ato como terrorismo, desencadeando uma retaliação massiva.
Desde então, a campanha militar israelense em Gaza matou mais de 60 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, e devastou a infraestrutura do território, agravando a crise humanitária.
A prisão dos ativistas reacende o debate sobre o bloqueio de Gaza, que desde 2007 restringe o acesso a bens essenciais, resultando em desemprego de 45% e pobreza extrema para mais da metade da população, conforme dados do Banco Mundial.
A ONU alerta que a negação de ajuda humanitária constitui uma violação do direito internacional, e a recente flexibilização do bloqueio, permitindo apenas quantidades mínimas de suprimentos, foi considerada “insuficiente” por líderes internacionais.
A detenção de figuras públicas como Greta Thunberg e Liam Cunningham amplia a visibilidade do caso, enquanto o envolvimento de um brasileiro intensifica a pressão sobre o governo de Israel. Organizações como o Instituto Brasil Palestina (Ibraspal) e o movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) pedem ações concretas, como o rompimento de acordos bilaterais entre Brasil e Israel.
A situação permanece fluida, com os ativistas ainda detidos e sem previsão clara de libertação. O caso da Flotilha da Liberdade destaca as complexidades do conflito Israel-Palestina, onde ações humanitárias se entrelaçam com disputas políticas e militares, desafiando a comunidade internacional a buscar soluções para uma crise que já deslocou milhões e ceifou milhares de vidas.
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