Um acordo feito entre a Sanesul e a empresa Ambiental MS Pantanal, empresa privada responsável pela coleta e tratamento do esgoto nas 68 cidades do Estado nas quais a estatal atual, livrou a parceira da obrigação de investir R$ 200 milhões em novas redes coletoras nos primeiros três anos de operação em Mato Grosso do Sul.
A denúncia sobre este suposto perdão milionário é do presidente do Sindágua (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e Serviço de Esgoto de MS), Lázaro de Godoy Neto.
Ele chegou à conclusão ao analisar um termo aditivo firmado entre a Sanesul e a empresa privada publicado no diário oficial no último dia 21 de agosto. Conforme este aditivo, em troca do perdão da obrigatoriedade de investir R$ 200 milhões em operação e outros R$ 200 milhões em instalação de novas redes coletoras de esgoto, a MS Pantanal desistiu de um pedido de reajuste extra que havia feito ainda em 30 de setembro de 2022.
Este pedido de reequilíbrio econômico foi feito porque a Sanesul atrasou os investimentos na ampliação das redes de esgoto e com isso o faturamento da MS Pantanal estava ficando abaixo do previsto, alegou a empresa privada.
Conforme o contrato inicial, firmado no começo de 2021, a Sanesul teria de investir em torno de R$ 430 milhões, mas as obras atrasaram e até agora não foram concluídas, faltando em torno de R$ 100 milhões, segundo Lázaro de Godoy.
Em 2023 a Sanesul chegou a lavrar um Auto de Inexecução para punir a MS Pantanal por conta da falta de investimentos ao longo dos primeiros três anos de contrato. Este Auto, porém, foi engavetado agora.
Mas, ao mesmo tempo em que o termo aditivo deixa claro que as duas partes abriram mão de supostos direitos, ele evidencia que, em um prazo de 30 dias após a assinatura do acordo, serão finalizados estudos para que a MS Pantanal apresente um novo pedido de reajuste extra nos repasses que a Sanesul faz à parceira.
Em média, segundo o presidente do Sindágua, a Sanesul repassa R$ 7 milhões mensais pelos serviços que ela presta para a coleta e tratamento do esgoto nas cidades do interior do Estado. Isso significa, segundo ele, que os repasses, desde maio de 2021, chegam à casa dos R$ 250 milhões.
Cerca de um quinto destes repasses, segundo ele, seriam indevidos, pois a Sanesul estariam indenizando a empresa com base no volume de água distribuído e não na quantidade de esgoto coletado e tratado. Entre maio de 2021 e junho de 2023 houve pagamentos acima dos 25% previstos na própria Lei do do Saneamento, afirma Lázaro.
De acordo com o sindicalista, a Sanesul paga a empresa com base no volume de água que passa em todos os hidrômetros. O correto, porém, seria fazer esse pagamento somente sobre o volume de esgoto coletado e tratado, como acontece em estatais do Ceará e em Maceió, alega o sindicalista.
Quando da assinatura da Parceria Público Privada, a MS Pantanal se comprometeu a investir R$ 1,026 bilhão até 2033 e garantir cobertura de 90% na coleta de esgoto, de acordo com Lázaro. Mas, como a Sanesul está investindo mais R$ 430 milhões, o grupo privado terá de investir somente em torno de R$ 300 milhões e mesmo assim a meta terá sido atingida.
“PPP não é para trazer dinheiro novo? Para que fazer PPP se a Sanesul faz todo o investimento?”, questiona o sindicalista que há anos luta na Justiça para tentar anular o contrato do governo estadual com a MS Pantanal, que é um dos braços da Aegea, que por sua vez controla a Águas Guariroba em Campo Grande.
E, para tentar anular aquilo que chama de “acordão” publicado no último dia 21, Lázaro promete apelar ao Ministério Público Estado para que a promotoria exija explicações tanto da administração estadual quanto da empresa privada.
O temor do sindicalista é de que um provável reajuste extra das tarifas e o aumento dos repasses à MS Pantanal provoque aumento nas tarifas e prejudique a população das 68 cidades. E, se não houver reajuste, a empresa não terá direito a corrigir o salário dos servidores, alerta Lázaro. “De algun lugar esse dinheiro vai sair”, diz.
Em meados de maio deste ano a Sanesul elevou em 3,69% as tarifas de água e esgoto em 67 municípios. Em Três Lagoas, o aumento foi um pouco maior, de 3,93%. A correção foi com base na variação da inflação oficial. E, apesar do aumento, as tarifas em Campo Grande ainda são 47,5% maiores que no interior do Estado.
Depois de firmar a parceria, os lucros da Sanesul começaram a murchar. No balanço anual divulgado no começo de abril, a estatal mostrou que o lucro de 2023 encolheu 21% na comparação com o ano anterior, passando de R$ 87,8 milhões para R$ 69,1 milhões. O balanço do ano anterior já havia mostrado recuo de 8,9%, já que em 2021 o superávit havia sido de R$ 96,4 milhões, de acordo com os dados oficiais da estatal.
A reportagem do Correio do Estado procurou a Sanesul e a MS Pantanal. Ambas prometeram dar explicações sobre o aditivo publicado em 21 de agosto, mas até a publicação da reportagem não haviam dado informações. O espaço segue à disposição.
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